quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Leitura

TEXTO INTRODUTÓRIO I




A Leitura - o alimento da alma



O grande avanço da humanidade, o primeiro grande salto, para a maioridade, foi a passagem da vida nómada e recolectora para a vida produtora. Quando o Homem começou a produzir, foi autor da sua própria criação, sedimentou e aprofundou hábitos, seleccionou o que lhe convinha, permaneceu no seu desenvolvimento. Os alimentos não eram encontrados mas procurados, trabalhados, melhorados, aproveitados.
A Leitura não pode ser meramente encontrada, tem que ser procurada e como a paixão é involuntária e desgastante e o amor é construído e alimentado, se não morre, deve-se ensinar a alimentar, todos os dias, nos nossos semelhantes (alunos, colegas, família, amigos, conhecidos, desconhecidos) o amor aos livros e a forma de amá-los. “Os homens só alcançam as alturas ajudando outros homens a alcançá-las”.L.H.Dowling
Para uma criança que se encontra a aprender os primeiros códigos, depara-se, inevitavelmente, com a 1ªdificuldade, é imprescindível que consigamos que a criança ultrapasse este 1º obstáculo, pois só uma leitura sem esforço consolida o acto de ler; o passo seguinte será a valorização do acto intelectual, pretende-se que a leitura seja lúdica, activa, procurada, necessitada, desejada, praticada de uma forma autónoma e emancipada.
Para consolidarmos o hábito da leitura seria desejável que a criança, na primeira infância, em família, já tivesse tido esse contacto prazenteiro e emocional com o livro e na Escola todos os professores de todos os níveis de ensino e de todas as disciplinas promovessem uma leitura enraizada e trabalhada emocionalmente e posteriormente desenvolvida para alcançar e cuidar da riqueza interior, a única coisa que pode salvar o mundo, como motor para o verdadeiro desenvolvimento integral . O suporte cultural supõe o reconhecimento de códigos e posteriormente a capacidade do sujeito fazer activamente a sua construção do significado do texto num mundo plural de múltiplas significações, interpretações e vivências emocionais e sentimentais de um ser humano completo, informado, plural e por isso tolerante e aberto a múltiplos mundos.

As palavras têm o poder emotivo e o autor põe em funcionamento a máquina das nossas capacidades pessoais. A leitura é uma actividade que pode transformar a consciência, o leitor ao interactuar com o texto constrói um eu mais alargado, mais completo, alarga o eu a outros “eus” infinitos e inicia-se e continua-se numa infinitalogia com uma amplitude tolerante que lhe abre o caminho para a emancipação.
“Un libro puede informar, convencer, emocionar, consolar, liberar, deleitar, desassosegar, desesperar (…) la conciencia del lector se reconstituye, se reafirma, se fortalece, se acrecienta, se enriquece, se degrada, se envilece, se embola; es decir, se informa y, como consecuencia, se reforma e se deforma, pêro en qualquier caso se transforma “(p.21, El rumor de la lectura, Equipo Peonza) .Um livro não tem que ser uma extensão do leitor pode provocar uma transformação que pode ser anárquica, aparentemente catastrófica, para posteriormente construirmos uma significação maior e mais ampla, num sentido de crescimento intelectual, social, estético e moral.
Sendo o acto de ler um acto pessoal, a leitura não é alienação é entranhação, porque a experiência profunda interior não significa fuga à exterior, mas tudo se completa e compete-nos a todos nós promover uma leitura ponderada, activa, reflectida, emocional, prazenteira, pessoal, que eleve e potencie a autonomia do indivíduo e o proteja da falsa propaganda; bem informado ele tem poder e liberdade (só se consegue liberdade civil com a leitura)
Ler não é apenas desenvolvimento intelectual é também desenvolvimento moral. Por isso dominar e entranhar-se na técnica leitora é uma habilidade das mais decisivas para amadurecer psicologicamente e moralmente.… Por isso comecemos, andemos, voemos para propagar a palavra do livro. Para termos cidadãos plenamente livres, façamos leitores/autores, não abandonemos nenhum aluno à sua sorte, muito menos o aluno do secundário, façamos um trajecto intencional e de implicação pessoal na leitura para combatermos, na nossa cruzada, o leitor gastronómico, que devora e não saboreia, que absorve sem reflectir. Devemos cultivar o gosto pela leitura em todos os ciclos de aprendizagem, complementando com a educação e a formação.

Cândida Filomena

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